No sertão de Xique-Xique
Na beira do Velho Chico
Viviam dois sacristãos
Um moço outro menino
Que em dia de velório
Na igreja tocavam sino.
Mas quem quisesse ouvir
Som de sino bem tocado
A cada um dos sacristãos
Tinha que fazer agrado
E a família do defunto
Aos meninos davam trocados.
Vivia ali um coronel
Homem rico e respeitado
Mas que andava doente
Pelo Doutor desenganado
E na manhã de domingo
O coronel virou finado.
Os sacristãos foram chamados
Para o sino badalar
Pois o defunto é coronel
Homem rico pra danar
E aquele grande velório
Todos iam admirar.
Na residência da viúva
Os sacristãos foram bater
E pediram à família
Dez reais pro serviço fazer
Mas ia ser trabalho bom
Pra ninguém esquecer.
Os sacristãos tocaram o sino
Por três horas sem parar
Cada um tocava um pouco
Para os braços não cansar
E o badalo foi soando
Até a missa começar.
A missa foi celebrada
Pelo Padre Frei Chicão
Era Frei muito valente
De coronel gostava não
Mas a missa celebrou
Aquele tava no caixão.
A missa foi muito bela
Gente de todo lugar
Tinha até carpideira
Chorando sem parar
Mas os sacristãos queriam
Era a missa terminar.
Quando a missa terminou
Foram logo se aprontando
Cada um de um lado
As portas foram fechando
Mas um grupo de beatas
Inda tava lá chorando.
Os sacristãos tavam perdidos
Sem saber o que fazer
Naquela noite tinha filme
E não queriam perder
Tinham chamado as meninas
Para o cinema conhecer.
Então tiveram uma idéia
A igreja iam fechar
As beatas ficariam
Para ao defunto rezar
Depois do filme voltavam
Para as velhas libertar.
E assim mesmo fizeram
Fecharam toda a igreja
E seguiram pro cinema
Correndo numa peleja
E assim que lá chagaram
Encontraram suas princesas.
Uma era Geny
Cabelo longo e cacheado
A outra, Fabiana
Olhos grandes azulados
E por essas duas meninas
Eles estavam enamorados.
E no cinema entraram
Para o filme assistir
Era filme de terror
E só adulto tinha ali
Mas nem se preocuparam
Só queriam se divertir.
Mas o filme era pesado
Ficaram todos tremendo
Quando a sessão terminou
Pra casa foram correndo
E das beatas da igreja
Acabaram esquecendo.
Na manhã do dia seguinte
Quando do sono acordaram
Lá na praça da matriz
Os dois se encontraram
Só naquele momento
Do esquecido se lembraram.
Correram até a igreja
Para aquilo resolver
E abriram logo a porta
Para a bronca receber
E quase foram pisados
Pelas velhas a correr.
- O coronel sumiu!
Gritava a velha assustada
- Foi engolido pela cobra!
Uma outra emendava.
Mas o que aconteceu?
Estavam as velhas piradas?
Só no cair da noite
Quando tudo espaireceu
É que as velhas contaram
Como tudo aconteceu
E todos tiveram medo
Daquilo que sucedeu.
Foi então que se lembrou
Duma história do passado
Fato real e verdadeiro
Pelo coronel negado
Pois por sua causa
Sua filha tinha pecado.
O coronel sempre foi bruto
Era chamado matador
Todos dele tinham medo
Do menino até o Doutor
Inclusive sua filha
Que dele tinha pavor.
A filha do coronel
Só vivia dentro de casa
Só saia com a mãe
Para a missa e para a aula
Coitada dessa menina
Parecia alma penada.
Quando a moça ficou jovem
Um tropeiro conheceu
Daquele homem ela gostou
E com ele se envolveu
Mas a moça engravidou
E quase enlouqueceu.
Para o bucho esconder
Um pano ela amarrou
E durante nove meses
O pai ela enganou
E um dia atrás da igreja
O seu filho ela pegou.
Sem saber o que fazer
A moça ficou pensando
Não podia ir pra casa
Com um bebê chorando
E no seu desespero
No rio acabou jogando.
Quando o bebê caiu na água
Numa cobra ele virou
Era uma cobra gigante
Que à mãe impressionou
E nadando pelo rio
O grande bicho se mandou.
Mas foi dentro da igreja
Lá embaixo do altar
Que aquele enorme bicho
Foi de fato se abrigar
E depois de cada missa
Em sua mãe ia mamar.
Então todos entenderam
O que de fato aconteceu
Com o corpo do coronel
Que da igreja escafedeu
Foi engolido pela cobra
Animal neto seu.
FIM
Texto: Layno Sampaio Pedra
Imagem: Sebáh Kanino - o Morlock
Este é o primeiro cordel de Layno e foi produzido a partir de uma história criada e contada por ele e Alcides Valente numa das oficinas de contadores de histórias do Teatro Griô. A história teve como inspiração a lenda da serpente gigante da Igreja do Miradouro em Xique-Xique.
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